31.dez
Tribuna do Senado 2
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+ Ler MaisData: 16/07/2014
Discurso: Mudanças no futebol brasileiro
Quero registrar aqui que retirei o nome do Deputado José Rocha do discurso, onde citei agora há pouco os membros da chamada Bancada da CBF, pois após meu pronunciamento, ele me abordou no plenário e afirmou não fazer parte deste grupo.
E mais, disse ser favorável ao texto original apresentado pelo Deputado Otávio Leite, se comprometendo, inclusive, a votar a favor da inclusão dos artigos maliciosamente retirados no texto final.
Aí, Otávio Leite, conseguimos mais um voto!
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
Com toda a justiça, muitos têm exaltado o belo exemplo dado, dentro e fora de campo, pela seleção da Alemanha – que, mesmo enfrentando um time argentino dedicado e guerreiro, conquistou com méritos o seu quarto campeonato mundial, domingo passado, no Maracanã.
Acho que a comparação com o momento vivido pela Alemanha deixa ainda mais evidentes os muitos problemas do futebol que mais nos interessa e preocupa, que é o futebol brasileiro.
Desde o início do meu mandato, em 2011, eu denunciei os desmandos na preparação da Copa: o superfaturamento e o atraso das obras, as remoções arbitrárias etc.
Ou seja, a mistura de corrupção, irresponsabilidade e autoritarismo que a gente conhece tão bem, e que raramente leva à punição dos responsáveis.
Em vista de todos esses absurdos, eu fico contente, pelo menos, com o fato de termos acompanhado uma competição de bom nível, com muitos gols, e os visitantes levarem do Brasil a lembrança de um dos países mais bonitos e um dos povos mais hospitaleiros do mundo.
Nesse contexto, não é justo que os políticos se apropriem desse importante legado imaterial deixado pelo povo brasileiro. A receptividade, o calor humano, a hospitalidade são características da nossa gente e independem de qualquer governo.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
Assim como milhões de brasileiros, eu também fiquei perplexo com a goleada que o Brasil sofreu da Alemanha, naquele episódio que tem sido chamado de Mineiraço ou Massacre do Mineirão.
Claro, derrotas fazem parte do futebol, são um acontecimento normal, ainda que doloroso.
Mas, quando uma seleção de grande tradição como a brasileira perde daquela forma humilhante, arrasadora, numa semifinal de Copa do Mundo, diante da sua torcida, isso é sinal de que problemas consideráveis estão se acumulando.
Não podemos aceitar como explicação que o time sofreu uma “pane”, e pronto. É preciso identificar as razões pelas quais as “panes” acontecem, até porque esta não foi a primeira.
Senhor Presidente:
Vamos olhar o retrospecto. Desde 2002, quando conquistou o pentacampeonato, o Brasil vem colecionando fracassos nas principais competições internacionais, que são a Copa e as Olimpíadas.
Talvez os êxitos em competições menores tenham servido para mascarar essa realidade.
Essa gente que se instalou no comando da CBF não está mais sabendo organizar um time campeão. O Brasil vem apresentando, seguidamente, problemas na preparação física, técnica, tática e psicológica.
Isso não pode continuar assim. Não podemos ficar vivendo do passado, dos números alcançados até aqui.
A seleção canarinha que jogou esta Copa tinha jogadores talentosos, com certeza, mas foi uma das piores que eu vi jogar.
Sofremos, no último dia 8 de julho, a nossa maior derrota na História do esporte mais amado em nosso país.
Acho que a maior derrota deve servir para impulsionar as maiores mudanças.
Que mudanças? Eu não me considero o dono da verdade, como os homens que tem mandado e desmandado no nosso futebol. Não tenho respostas prontas sobre o caminho a ser seguido, mas tenho certeza de que o futebol brasileiro precisa de mais democracia e mais transparência.
Muita gente acha que não se deve misturar política e futebol. A esses, eu lamento informar que, para o bem ou para o mal, política e futebol já estão profundamente misturados.
Propostas importantes que poderiam moralizar o esporte passam por esta Casa, e são continuamente barradas pela Bancada da CBF. São colegas deputados como Rodrigo Maia, Guilherme Campos, Arnaldo Faria de Sá, Vicente Cândido, Jovair Arantes e Valdivino de Oliveira.
Esse time de gente que não sabe nem fazer embaixadinha está dando de goleada nos milhares de brasileiros que amam o futebol e querem ver esse esporte administrado com seriedade e lisura em nosso país.
A bola está quicando na área, e agora temos a oportunidade de apoiar a excelente proposta do deputado Otavio Leite, apresentada no âmbito da Comissão Especial do Proforte.
Alguns artigos da proposta original foram, lamentavelmente, retirados do texto que seguiu para votação em Plenário.
Em resumo, o trechos retirados estabelecem que o futebol brasileiro passa a constituir Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Dessa forma, fica declarada como de Especial Interesse Público a comercialização de quaisquer produtos ou serviços proveniente da atividade de Representação do Futebol Brasileiro.
Daí, Senhor Presidente, Senhores Deputados, decorrem duas medidas da maior importância, contidas na proposta: uma é que, ao receber da Presidência da República a chancela de “Representante Oficial do Futebol Brasileiro”, a CBF ficará obrigada a divulgar todas as informações sobre as receitas obtidas com a comercialização desse patrimônio do nosso país.
Desta forma, as contas da instituição estariam sujeitas a auditorias do Tribunal de Contas da União, quando requeridas pelo Poder Executivo ou pelo Legislativo.
A segunda é que a CBF terá que contribuir com uma alíquota de 10% sobre as receitas auferidas com a exploração do nosso futebol.
Esse valor será destinado a um fundo de iniciação esportiva para crianças e adolescentes.
Outra proposta importante oriunda da Comissão do PROFORTE diz respeito ao saneamento financeiro dos clubes brasileiros: ela estabelece que os clubes que não honrarem seus compromissos financeiros poderão ser rebaixados de divisão.
Hoje, conversando com o bravo Senador Álvaro Dias, que presidiu a CPI do Futebol no Senado em 2001, tomei conhecimento de um projeto de lei que ele apresentou e que contempla outras medidas que precisam ser incorporadas a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, para dar mais transparência à CBF.
Eu vou apresentar essas emendas assim que o projeto do Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte for pautado no Plenário desta Casa.
Não podemos confundir, Senhor Presidente, nobres colegas, a autonomia prevista na Constituição Federal com a apropriação de uma entidade que usa um bem da cultura nacional, como a Seleção Brasileira, para alavancar recursos em benefício dos seus próprios dirigentes.
Espero que, ao menos agora, quando o futebol brasileiro parece ter chegado ao fundo do poço em termos de prestígio, quando a seleção brasileira chega ao fim da Copa sob o manto do vexame e da vergonha, essas propostas concretas de renovação contem com o apoio da Presidente Dilma, do Ministro Aldo Rebelo, da Presidência desta Casa e da maioria dos colegas deputados.
Mas, Senhoras e Senhores deputados, não basta apenas essa ação do Poder Legislativo.
Eu pergunto aos Senhores Presidentes das federações estaduais e dirigentes de clubes, que acabaram de eleger o Sr. Marco Polo Del Nero como o novo Presidente da CBF: vocês acham mesmo que esse Senhor é capaz de comandar as mudanças de que o futebol brasileiro tanto precisa? Eu tenho certeza que não.
Se queremos, mesmo, essas mudanças, que tal os senhores anularem essa eleição clandestina e obscura que alçou o Sr. Marco Polo Del Nero à Presidência da Confederação, pelos próximos quatro anos?
O futebol brasileiro não pode e não merece continuar a ser comandado por uma quadrilha, uma cúpula de cartolas, que já mostrou sua incompetência.
Essa gente que explora um bem que é de todos nós, ganha muito dinheiro com isso e faz com esses recursos o que bem entende.
Mas nunca em prol do nosso futebol!
Se a transformação não começar agora, corremos o risco de passar por vexames ainda piores que o Massacre do Mineirão.
É preciso mudar muita coisa no “país do futebol”, Senhor Presidente. Talvez um bom começo seja mudar o futebol desse país.
Para tanto, convoco os parlamentares de ambas as Casas para agirmos em prol desta mudança; seja instalando a CPI que propus no final do ano passado, ou aprovando projetos de lei em esforço concentrado que venham a mudar nossa realidade o quanto antes.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado